Assassinato de Trotsky

Em 20 de agosto de 1940, o líder revolucionário russo sofreu um golpe fatal na cabeça

Por
Alice Elias
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Assassinato de Trotsky
Segundo Osvaldo Coggiola, "o assassinato de Trotsky visou desferir, e desferiu, um golpe terrível à perspectiva de uma reviravolta política que teria tido influência decisiva no curso da história da URSS e do mundo todo". (Arte: Alice Elias)

 

Em 20 de agosto de 1940, o revolucionário russo Leon Trotsky foi golpeado na cabeça, o que ocasionou sua morte no dia seguinte. Dentre as motivações políticas para seu assassinato, a luta contra a política de Stalin foi um dos principais fatores. Conversamos com Osvaldo Coggiola, professor na área de História Contemporânea da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, para entender mais sobre quem foi Trotsky, e o contexto que levou à sua morte.
Principal dirigente do partido bolchevique, junto a Lênin, Trotsky foi um dos responsáveis pela sobrevivência da Revolução de Outubro de 1917, como fundador e comandante principal do Exército Vermelho. “Em agosto de 1917, Lênin e Trotsky foram os membros mais votados do novo Comitê Central bolchevique, iniciando um trabalho conjunto que identificaria mundialmente seus nomes com a revolução russa”, explica Coggiola.
A vitória militar contra a intervenção externa e a contrarrevolução interna resultaram na fundação, em 1922, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em 1923, dentro do próprio Partido Comunista da União Soviética (PCUS), surgiu uma disputa interna entre o grupo Oposição de Esquerda, liderado por Trotsky e que originou a corrente posteriormente conhecida como "trotskismo"; contra a fração dirigente do novo Estado soviético, liderada por Stalin. Este conflito começou internamente, mas em pouco tempo alcançou dimensões internacionais.

Trotskismo
No plano da política interna, a oposição a Stalin lutou pelo direito de tendência, pela revitalização dos sovietes, e por um plano de industrialização capaz de fortalecer a base social da ditadura proletária. Já no plano da política internacional, lutou contra a teoria do “socialismo num país só”, assim como lutou por uma orientação revolucionária para a Internacional Comunista, incluindo a frente única operária contra o nazismo.
A partir de organizações internacionais, a Oposição de Esquerda do PCUS rompeu com a Internacional Comunista, em 1933, e fundou a IV Internacional em 1938, “considerada pelo organizador do Exército Vermelho como a obra mais importante da sua vida”, afirma Coggiola. A IV Internacional visava derrubar o capitalismo mundial através da revolução proletária, perspectiva contrária à política de "coexistência pacífica” (entre Estados socialistas e Estados capitalistas), adotada por alguns Estados soviéticos. Trotsky aspirava uma revolução política na União Soviética que devolvesse o poder político ao proletariado, uma vez que o stalinismo “era a burocratização do Estado soviético, devido ao seu isolamento internacional e ao cerco imperialista”.
Quase todos os membros da Oposição de Esquerda, contudo, foram massacrados pela repressão stalinista – entre os quais diversos dirigentes revolucionários de 1917. Segundo Coggiola, a IV Internacional, proclamada em 1938, foi a resposta do movimento operário internacional às derrotas até então sofridas, como a ascensão do nazismo, a opressão ao proletariado alemão e o extermínio da vanguarda revolucionária da Revolução de Outubro pelo stalinismo. A despeito das condições de isolamento e retrocesso político e ideológico criadas por tais derrotas, a proclamação da IV Internacional simbolizou a vitalidade e continuidade da revolução socialista, liderada por Trotsky.
Assassinato e consequências
Mesmo depois de expulso da URSS, em 1929, Trotsky não deixou de ser um alvo de Stalin. A polícia política da URSS (chamada GPU) criou a “Seção Trotsky” com objetivo de eliminá-lo.
Até a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, a Oposição de Esquerda lutou para recuperar o interior dos partidos e a Internacional Comunista. Apesar dos esforços, o resultado foi uma ruptura definitiva entre elas, uma vez que a Oposição de Esquerda caracterizou a Internacional Comunista como irrecuperável para o proletariado revolucionário, devido ao seu alinhamento definitivo no campo da contrarrevolução.
Em vista disso, empenharam-se em construir a IV Internacional, em 1938, buscando a derrota do capitalismo mundial e mantendo a oposição a Stalin
“O assassinato de Trotsky, em 1940, não foi apenas a consumação de uma vingança pessoal: visou desferir, e desferiu, um golpe terrível à perspectiva de uma reviravolta política que teria tido influência decisiva no curso da história da URSS e do mundo todo” explica Coggiola. Os chamados Processos de Moscou (1936-1938) tiveram Trotsky como principal acusado, inclusive condenado à morte in absentia (sem a presença do réu, uma vez que ele já estava banido da URSS).
Além do assassinato de Trotsky, foi legitimado o extermínio da velha guarda bolchevique em sua totalidade, sob o pretexto de ser “cúmplice de Trotsky”. Em 1938, no campo de concentração de Vorkuta (Sibéria), os principais responsáveis pelo movimento operário e revolucionário internacional foram assassinados. Embora tenham deixado um programa para a geração futura, sem Trotsky e sem seus principais dirigentes, a IV Internacional entrou em crise e retrocesso, dos quais ainda não se recuperou. A ruína da IV Internacional foi a principal consequência da morte de Trotsky.

Confira a entrevista completa aqui.


O professor Coggiola atua principalmente nos seguintes temas: marxismo, América Latina, movimento operário, capitalismo e socialismo. Para quem se interessar sobre o tema, é autor de diversos livros, entre eles: O Trotskismo na América Latina (1984), Trotsky Ontem e Hoje (1990), Socialismo e Comunismo na América Latina (2006), e História do capitalismo (2017).