Blocos de carnaval são uma forma de ativismo urbano para pessoas LGBTQIA+

Pesquisa da USP analisa como blocos de carnaval se organizam em novos formatos de reivindicações da coletividade LGBTQIA+ em São Paulo

Por
Gabriela César
Data de Publicação

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Foto:  Fernando Maia / Riotur

Há quem diga que o carnaval é apenas um espaço de diversão, mas, segundo uma pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, os blocos carnavalescos também são uma forma de ativismo urbano, especialmente para pessoas LGBTQIA+.

A tese, desenvolvida pelo sociólogo Vinicius Ribeiro Alvarez Teixeira, debate sobre os modos próprios de reivindicações sociais de indivíduos que integram os coletivos LGBTQIA+, caracterizado pela presença do lúdico e do criativo.  Essa manifestação é feita também com o uso de seus corpos para representar suas exigências, principalmente durante os blocos de carnaval e na Parada do Orgulho LGBT+.

Vinicius acredita que sua tese tem um papel importante no combate à homofobia ao fazer um registro histórico dos movimentos e dos ativismos LGBTQIA+ no século 21. Seu doutorado foi feito por meio de observação participante, entrevistas semiestruturadas e análise documental.

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Vinicius Teixeira é bacharel em Ciências Sociais pelo IFCH/Unicamp

Novos blocos de rua

A partir de 2010, coletivos sociais e novos blocos de rua começaram a surgir na cidade de São Paulo. Esses grupos se uniram, criando o documento “Manifesto Carnavalista”. Foi por meio desse movimento que houve a organização das demandas e das reivindicações de grupos carnavalescos. Durante esse período, os blocos de rua saíram de pequenas quantidades para um maior número.

Ainda que nem todos os blocos de rua estejam associados a um ativismo, Vinicius acredita que as festas podem ser - e muitas vezes são - parte do cenário de ativismo político. “Os blocos são uma maneira também, assim como os coletivos, de organização dentro dos ativismos que surgiram no século 21”, afirma Vinicius.

A Parada LGBT+

A ideia inicial, em 1997, era de que a Parada fosse parecida com um comício ou marcha. Os organizadores perceberam, com essa primeira tentativa, que havia a necessidade de maior representatividade no evento.

Foi então que surgiu a chamada “visibilidade massiva”, que utilizava-se dos corpos como meio de reivindicação e a presença de trios elétricos. Segundo Vinicius, a Parada incorporou a visibilidade massiva dos blocos de rua, já que o carnaval de Salvador já possuía um formato parecido.

Nos anos 2000, a Parada configurou-se como uma festa, um modelo mais parecido com o atual. Para o pesquisador, é um engano da população mais conservadora pensar que festa e política se separam. “Eu acho que o carnaval e a Parada são dois dos exemplos, talvez, mais simbólicos disso (festa com política)”, diz Vinicius. 

Por mais que a Parada busque políticas de gênero afirmativas, há maior representação no evento de homens brancos gays. Essa predominância gera uma falta de identificação de pessoas que não são cis-gêneros ou que não são homens homoafetivos. Assim, esses grupos acabam por buscar alternativas para seus protagonismos, criando blocos próprios, como blocos trans ou lésbicos.

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A tese de doutorado Da Parada do Orgulho ao “Novo” Carnaval de Rua: Ativismos LGBTQIA+ nos espaços públicos da cidade de São Paulo no século XXI foi defendida por Vinicius Ribeiro Alvarez Teixeira em janeiro de 2025 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e orientado pela professora Fraya Frehse.