Escritora coreana falou sobre fantasia, terror e feminismo em evento na FFLCH

Bora Chung, autora de Coelho Maldito, contou sobres suas inspirações para conseguir criar histórias fantásticas

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Astral Souto
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Arte por: Astral Souto

Literatura fantástica é o gênero literário que se enriquece de acontecimentos sobrenaturais e elementos surreais e estranhos. Monstros, alienígenas, bruxos e magias são os principais componentes dos livros fantásticos. Como exemplo, Frankenstein, de Mary Shelley; O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson; Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien; e até Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato.

Esse foi o tema do evento do dia 7 de junho no prédio de Filosofia e Ciências Sociais da USP. O encontro foi focado apenas na fantasia coreana e trouxe Bora Chung, escritora de ficção científica e romances fantásticos. Seu livro Coelho Maldito, publicado em 2017, na Coreia do Sul, que mistura fantasia com horror, foi finalista dos prêmios International Booker Prize e National Book Award.

A abertura do evento foi feita por Luis Carlos Girão, coordenador do Grupo de Tradução de Literatura Infantil Coreana e Contos Folclóricos Coreanos pelo Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) na USP.

Oscar Nestarez, doutor em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela FFLCH, explicou que a literatura fantástica veio de um movimento de subversão, do século 18, quando o pensamento iluminista estava em vigência.

Começou com a literatura gótica, que carregava o fantasmagórico e o obscuro e confrontava a visão científica da época. No século 19, vieram autores como Edgar Allan Poe, E. T. A. Hoffman e Guy de Maupassant. Hoje em dia a literatura fantástica não é mais usada para subverter leis consideradas absolutas, mas para revolucionar as construções socioculturais.

Jaqueline Mendes Santana, mestranda em Letras pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), fez uma linha do tempo de todas as obras de Bora Chung até a obra Coelho Maldito. O livro é uma coletânea de contos feitos em diferentes fases da vida da autora, desde 1998 até 2016. Ele explora relações familiares e românticas, relações entre humanos e animais, ou figuras animalescas, além de violência, ganância e morte. A maior parte dos personagens centrais são mulheres. Os contos retratam violências sofridas por elas e suas inseguranças. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Bora Chung classifica essa obra como um “terror feminista”.

Bora Chung participou do evento por videochamada e falou sobre suas inspirações como escritora e sobre seus livros. Diz que encontra ideias na sua vida cotidiana. Sobre o livro Midnight Timetable, Bora relata que encontrou as palavras do título em um terminal de ônibus.

Já em Coelho Maldito, a autora fazia parte de um grupo chamado The Mirror, onde escreviam e contavam contos e novelas. Alguém do grupo sugeriu que os demais fizessem uma história inspirada em algum animal da astrologia chinesa. Foi nesse momento que Bora ficou com o coelho, pois na escola cuidava de um casal de coelhos e, por isso, tinha mais afinidade com essa espécie. Assim surgiu uma de suas obras mais célebres, traduzida para o inglês, português, italiano e alemão.

O evento completo pode ser assistido pelo canal oficial da FFLCH.