Fomentado pela ação revolucionária de Rosa Parks, o fim da segregação racial nos ônibus dos EUA deu força aos outros movimentos pelo direitos civis dos negros no país
“Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo”. A frase de Martin Luther King ilustra a atitude de uma ativista pelos direitos raciais nos Estados Unidos que contrariou as regras da segregação racial. Rosa Parks virou um símbolo do movimento antirracista estadunidense após se negar a dar seu lugar para uma pessoa branca em um ônibus, o que era considerado um crime na época.
Essa ação fez com que Rosa fosse presa pela polícia do Alabama, em 1955. A decisão fomentou uma revolta entre o movimento local pelos direitos civis e seu líder, Martin Luther King, e a Associação Nacional Para o Avanço de Pessoas de Cor (NAACP). Em pouco tempo, um boicote ao sistema de transporte público em todo país foi instaurado. Com isso, a suprema corte foi pressionada a tomar uma decisão a favor dos movimentos sociais. E em 13 de novembro de 1956 foi decretado o fim da diferenciação racial nos ônibus de todo o país. E o pequeno passo de Rosa Parks virou uma escalada de todos pelo fim da segregação racial americana.
Texto do pesquisador: Robert Sean Purdy
Rosa Parks foi uma militante veterana dos movimentos por direitos civis no estado de Alabama dos anos 1930 até sua morte, em 2005. Ela se tornou famosa ao ser presa, em 1955, em Birmingham, Alabama, por se recusar a sair de um assento reservado a brancos num ônibus municipal. Como resposta, o movimento local por direitos civis, liderado pela Associação Nacional Para o Avanço de Pessoas de Cor (NAACP) e mais tarde pelo pastor batista, Martin Luther King Jr., organizou um boicote aos ônibus na cidade que durou 385 dias. A Suprema Corte foi pressionada a tomar uma decisão sobre segregação nos ônibus por causa do boicote. Declarou ilegal a segregação nos ônibus não só em Birmingham mas no país inteiro. Enquanto a prisão de Rosa Parks foi o estopim, é importante sublinhar que foi um movimento em massa que conseguiu essa vitória. O boicote de ônibus em Birmingham em 1955-1956 é considerado por historiadores o começo do movimento moderno por direitos civis nos EUA.
Martin Luther King,Jr. era um pastor batista de Atlanta, Georgia, e doutor em Teologia. Foi pastor de uma igreja em Birmingham na época do boicote e teve um papel central no movimento local e depois nacional. Fundou a Conferência de Liderança Cristã do Sul, composto por pastores negros, em 1957, que foi uma das organizações centrais do movimento por direitos civis ao longo das décadas de 1950-1960. Adepto da tática de desobediência civil e influenciado por Mahatma Gandhi, organizou e liderou o movimento por direitos civis até seu assassinato por um branco racista em 1968. Sua pauta, e do movimento em geral, incluiu a luta pelo fim de segregação em todas as esferas da sociedade e para direitos políticos iguais para negros. Mas também para direitos econômicos como emprego pleno, moradia decente, etc. King radicalizou nos meados da década de 1960 e foi um dos primeiros e mais importantes líderes norte americanos de denunciar a guerra do Vietnã em 1967. Além de liderar campanhas no sul dos Estados Unidos contra segregação (foi preso 29 vezes) e por direitos de voto, organizou campanhas contra pobreza e para ações afirmativas para negros e outras minorias no Norte. Pelo governo, a mídia, a polícia e centros de poder nos EUA foi considerado um radical perigoso e sofreu perseguição constante. Em 1986, a terceira segunda feira do mês de Janeiro foi constituída "O Dia de Martin Luther King, Jr.", um feriado nacional. Mesmo assim, o presidente Ronald Reagan e vários estados demoraram para aceitar.
Robert Sean Purdy é professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas na USP, com especialidade em História da América Independente com ênfase nos Estados Unidos.