Filme ultrapassa os muros da Universidade e recebe prêmio na Mostra Ecofalante de Cinema

O filme São Palco – Cidade Afropolitana recebeu o Prêmio do Público de Melhor Longa-Metragem na 14ª Mostra Ecofalante de Cinema, no dia 8 de junho

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Redação
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O filme premiado é fruto de uma pesquisa acadêmica – Foto: Divulgação / São Palco – Cidade Afropolitana
O filme premiado é fruto de uma pesquisa acadêmica – Foto: Divulgação / São Palco – Cidade Afropolitana

O filme São Palco – Cidade Afropolitana, realizado pelo Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (Lisa) da USP,  acaba de receber o Prêmio do Público de Melhor Longa-Metragem, na 14ª Mostra Ecofalante de Cinema. O longa retrata como os artistas imigrantes africanos de São Paulo enfrentam os desafios de viver em um novo país e transformam suas obras. A codiretora Rose Hikiji comenta que “a importância desse prêmio está em mostrar a possibilidade do filme que a gente produz na Universidade ir além dos muros e atingir um público amplo, que reconheceu no filme um mérito. Isso, provavelmente, porque a produção consegue comunicar coisas que muitas vezes os nossos textos acadêmicos são limitados em termos de audiência”.

Rose Satiko Gitirana Hikiji - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Rose Satiko Gitirana Hikiji - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O codiretor do filme, Jasper Chalcraft, é antropólogo e documentarista inglês. A codiretora Rose Hikiji é também professora na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, no Departamento de Antropologia, e coordenadora do Lisa. A mostra é um evento anual que exibe gratuitamente produções cinematográficas com perspectiva socioambiental. O Lisa é um centro de apoio e fomento às pesquisas, preservação de acervos, difusão e formação em Antropologia da USP.

Diáspora criativa

Durante oito anos, os codiretores e a equipe do filme acompanharam as formas de viver de artistas de diferentes países africanos em São Paulo. Os músicos e artistas plásticos criam e ocupam palcos pela cidade, onde exercem suas profissões, ao mesmo tempo em que enfrentam o deslocamento de seus países de origem e a realidade racial brasileira. Segundo Rose Hikiji, os imigrantes que aparecem no filme disseram que foram surpreendidos ao chegarem ao Brasil e perceberem que, apesar de o País ser descendente de pessoas pretas, ele é racista.

O longa-metragem e a pesquisa trabalham com o conceito de diáspora criativa, que “tem a ver com esses deslocamentos que são pensados a partir do potencial criativo e artístico das pessoas que se deslocam. A gente não pretende dar conta da totalidade da experiência da imigração ou do refúgio, mas desse aspecto que está relacionado com a bagagem artística que eles carregam e de que maneira, no contato com a realidade brasileira e paulistana, esse fazer musical e artístico deles se transforma”, explica a professora.

O filme premiado foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) a partir do projeto O musicar local: novas trilhas para a Etnomusicologia, que pretendia estudar a nova geração de musicistas africanos que chegaram a São Paulo. Dele, surgiu a pesquisa Ser/tornar-se africano no Brasil: Fazer musical e patrimônio cultural africano em São Paulo, realizada pelos codiretores do longa-metragem desde 2016 até agora.

Mostra Ecofalante de Cinema

A Mostra Ecofalante de Cinema realiza exibições gratuitas de filmes com temáticas socioambientais sobre a América Latina desde 2012. No primeiro semestre do ano, ocorrem as mostras e premiações, em São Paulo. No segundo, são realizadas itinerâncias que levam filmes e debates para diversas regiões do Brasil. As atividades são realizadas pela Ecofalante, uma organização sem fins lucrativos fundada em 2003 com o objetivo de criar e apoiar projetos culturais e educacionais que contribuam para o desenvolvimento sustentável.

Neste ano, a programação da mostra contou com 125 filmes de 33 países, exibidos de 29 de maio a 11 de junho. A homenagem desta edição foi ao cineasta brasileiro Hermano Penna, que dirigiu filmes sobre a história e cultura nordestinas e sobre povos originários. Para competir por um prêmio assim como o São Palco, é preciso se atentar ao período de inscrição pelo site da mostra. Podem se inscrever produções brasileiras com foco em temas territoriais e memoriais ou curtas-metragens de estudantes universitários ou de escolas técnicas, relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Texto original: https://jornal.usp.br/diversidade/filme-ultrapassa-os-muros-da-universidade-e-recebe-premio-na-mostra-ecofalante-de-cinema/