Nascimento de Julio Cortázar

Autor de obras como "O jogo da amarelinha" e "A volta ao dia em 80 mundos", Julio Cortázar é um dos maiores escritores latino-americanos

Por
Alice Elias
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Nascimento de Julio Cortázar
Segundo Amanda da Silva, Cortázar "foi um escritor versátil e muito prolífico, publicou romances, contos, poesias, peças de teatro, ensaios, e foi tradutor também". (Arte: Alice Elias)

Julio Cortázar, um dos maiores escritores latino-americanos, nasceu em 26 de agosto de 1914, na Argentina. Seu estilo de escrita versátil e fecundo nos proporcionou romances, contos, poesias, peças de teatro, ensaios, e também traduções feitas pelo autor.

Escritor de narrativas como A Autoestrada do Sul, A Casa Tomada, e Continuidade dos Parques, assim como obras inovadoras tais quais O Jogo da Amarelinha e A Volta ao Dia em 80 Mundos, Cortázar é reconhecido pelo modo de brincar com o leitor, possibilitando diferentes formas de leitura e perspectivas sobre a realidade.

Fez parte do movimento literário que ampliou o interesse dos leitores por obras latino-americanas junto a autores como Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa.

Conversamos com Amanda Luzia da Silva, mestre em Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP sobre as contribuições literárias do escritor que “desperta nos jovens o desejo pela literatura''. Confira:

Serviço de Comunicação Social: Você poderia comentar brevemente sobre quem foi Júlio Cortázar?

Amanda Luzia da Silva: Julio Cortázar é um dos maiores escritores latino-americanos. Nasceu na Argentina, no início do século XX, mas, ainda muito jovem, radicou-se na França, onde viveu até o fim da vida. Mesmo morando tanto tempo na Europa e em um país francófono, nunca abandonou o espanhol como língua de escrita e nem a América Latina como espaço nas suas obras. Foi um escritor versátil e muito prolífico, publicou romances, contos, poesias, peças de teatro, ensaios, e foi tradutor também.

Inspirado por escritores como Edgar Allan Poe, Jorge Luis Borges e Horacio Quiroga; Cortázar escreveu narrativas inesquecíveis, como A Autoestrada do Sul, A Casa Tomada, Continuidade dos Parques, entre outras preciosidades. Seus contos fantásticos são tão bons que inspiram filmes como Blow-up, de Michelangelo Antonioni, O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel, e Week End, de Jean Luc Godard.

Trata-se de um escritor muito lido e estudado. Ao lado de Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa, fez parte do fenômeno editorial conhecido como Boom do romance Latino-americano. Foi o aparecimento desses grandes narradores, para usar a expressão de Jaime Concha, que ampliou o interesse do público leitor por obras de escritores latino-americanos. O boom permitiu o aparecimento de importantes editoras regionais, aumentou o número de tiragens de livros e abriu caminhos a uma série de outros escritores e escritoras.   
Amado ou odiado, o boom se trata de um fenômeno que passou por diferentes interpretações ao longo dos últimos 60 anos, um tanto em consequência desse aspecto mercadológico, um tanto pela própria personalidade desses quatro escritores. Eles apareciam em tudo, de celebrações a discussões acaloradas, participavam de debates políticos, apareciam na televisão, eram um fenômeno de massa. Cortázar foi uma figura polêmica, sobre isso, não restam dúvidas.  

Na Argentina, é considerado um escritor que desperta nos jovens o desejo pela literatura. Creio que isso acontece em virtude do humor e das experimentações que aparecem em suas obras. Cortázar publicou obras muito diferentes, destaco O Jogo da Amarelinha e também um livro pelo qual tenho muito carinho, A Volta ao Dia em 80 Mundos. São livros que jogam com o leitor, que desmontam a rigidez do objeto livro e, ao mesmo tempo, abrem a possibilidade de questionar perspectivas estanques da realidade.

Ele foi muito influenciado pela música, sobretudo, pelo jazz, e isso reverbera em suas obras. Aliás, nosso querido professor Davi Arrigucci Jr., em seu livro O Escorpião Encalacrado, formula uma leitura preciosa de O Perseguidor, considerado um dos melhores contos de Cortázar.  

Serviço de Comunicação Social: Quais foram suas principais contribuições para a Literatura? Em sua análise, como elas repercutem atualmente?

Amanda Luzia da Silva: Seus contos foram as obras que melhor envelheceram, sempre indico a leitura de Bestiário e Todos os Fogos o Fogo. Na minha opinião, são os livros em que se encontram as melhores narrativas de Cortázar.

O romance é o lugar onde tem maior experimentalismo. Aos leitores que gostam de se sentir provocados e deslocados, nos romances eles vão encontrar o que desejam. É um escritor para se divertir lendo, rir com ele. Gosto muito da imagem de Cortázar com um cone na cabeça. Ele era isso, um cara que gostava de se divertir e convoca seus leitores para essa brincadeira, não é à toa que o seu romance mais conhecido seja O Jogo da Amarelinha, no qual ele convida o leitor a escolher que tipo de livro deseja ler, a saltar os capítulos como quem salta as casas desse jogo que marcou tanto a nossa infância.

Amanda Luzia da Silva é professora da área de Literatura Espanhola e Hispano-americana, mestre em Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana pela FFLCH e doutoranda em Teoria Literária no Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. Para quem se interessar sobre o tema, sua dissertação de mestrado está disponível em Rayuela no horizonte do não interpretável.