A professora Leila Leite Hernandez nos conta como funcionava esse sistema segregacionista que perdurou durante décadas na África do Sul
O Hoje na História relembra o término do apartheid na África do Sul, sistema separatista que distinguia direitos entre negros e brancos.
Iniciado em 1948, o período foi movido por lutas em oposição à política segregacionista, que se intensificaram com a “desobediência civil” do Congresso Nacional Africano (CNA). A organização foi posta na ilegalidade e seu líder Nelson Mandela condenado à prisão.
O apartheid teve seu fim em 17 de março de 1991, pelo presidente Frederick de Klerk, por um conjunto de fatores como a escassez do domínio branco na África do Sul, a intensificação de manifestações contra o sistema e com a volta da legalidade do CNA.
Leila Leite Hernandez, há 20 anos professora de História da África do Departamento de História da FFLCH-USP, nos explica um pouco mais o que foi esse sistema e como funcionava:
“As lutas contra o apartheid na África do Sul se revestiram de diferentes formas – pacíficas ou de desobediência civil – que convergiram para o término de um sistema em que o Estado legalizou e institucionalizou o mando fundado no terror, tornando os diferentes desiguais, ao combinar origem, fenótipo, língua e religião.
Totalitário, este sistema controlava a vida pública, a vida privada e a vida íntima das pessoas, em especial dos negros, mas também dos mestiços e indianos.
Definiu juridicamente a representação política; os espaços de trabalho - determinando em quê e onde as pessoas deveriam trabalhar- e os espaços de moradia e de lazer; criava os passaportes internos impedindo o livre direito de ir e vir; e proibia os casamentos inter-raciais.
Desenvolveu uma estrutura discursiva dominante e um imaginário com a língua, os valores, os símbolos e a religião africânder os quais, em diferentes conjunturas reafirmavam a superioridade dos africânderes.
Com o término do apartheid, um conjunto de leis proíbe a discriminação e os preconceitos raciais.
Nos dias de hoje, ainda que nas atividades cotidianas encontremos alguns traços racistas, as diferenças já não são mais sinônimos de desigualdades. Os preconceitos têm diminuído de forma significativa e as relações sociais ampliadas, cedendo lugar a liberdade de toda a população definida pelo pluralismo étnico, histórico e cultural.”