O álbum Sgt. Peppers é lançado e a contracultura é fortalecida no Ocidente

Disco determinou não só uma nova fase para os Beatles, mas também influenciou jovens que contestavam o sistema

Por
Lara Tannus
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Beatles
Uma das razões contadas sobre o nome "The Beatles" é a de que John Lennon teria considerado o grupo como porta-voz da geração "Beat", que antecedeu o movimento hippie (Arte: Renan Braz)

A década de 1960 foi um período de efervescência cultural no ocidente. O movimento hippie, que surgiu durante a Guerra do Vietnã (1959-1975) pelo contato dos soldados estadunidenses com a cultura oriental, talvez tenha sido o grande representante desse fato, tornando a contestação do sistema político e militar bastante recorrente entre os jovens da época. Muitos artistas foram porta-vozes desses questionamentos e enquanto tudo isso acontecia, os Beatles estavam prontos para lançar o que para muitos foi o grande álbum desta geração: Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band.

Embora os Beatles tenham surgido em Liverpool, na Inglaterra, eram adeptos ao movimento hippie e influenciaram uma geração inteira de jovens pelo mundo ocidental, sendo o álbum de 1967 decisivo para representar os sentimentos de seu tempo. Segundo Marcos Alexandre Capellari, doutor em História Social pela FFLCH da USP e professor do Instituto Federal de São Paulo, “as letras dialogam com questões culturais, sociais e políticas de forma provocativa em relação à sociedade da época, na qual estas e outras questões estavam explodindo nos movimentos de contestação promovido pela juventude: a contracultura”.

Sgt Peppers, colocado no topo da lista de melhores álbuns da história da música popular pela revista Rolling Stone (2012), foi lançado em 1967 levando os Beatles a uma nova fase. “Antes do “Sgt Peppers”, a imagem dos Beatles era de uma banda comportada. Tudo mudou com a produção desse álbum, que respondia aos anseios do próprio grupo de inovar esteticamente e de transgredir”, explica Capellari.

O professor comenta sobre algumas faixas, demonstrando a presença da cultura psicodélica e de ambiguidades como a ilusão e a realidade em Lucy in the sky with diamonds, a afirmação e negação da cultura de massa em A day in the life e a tradição e liberdade em She’s leaving home. “As letras são mais complexas que as da fase anterior, exigindo atenção do público para serem interpretadas, [o álbum] misturou com brilhantismo rock e música erudita, indiana, jazz, soul, blues, folk, em canções emendadas umas nas outras com uma proposta conceitual que avança sobre a própria capa psicodélica: uma colagem envolvendo os próprios músicos, suas representações em cera e imagens de muitos outros personagens, como políticos, cientistas, artistas e religiosos de tradição hindu", conta.

Influência no Brasil

A contracultura foi tão impactante nos Estados Unidos que se expandiu na construção ideológica de outras regiões que também questionavam suas estruturas políticas. Capellari comenta que Sgt Peppers inspirou artistas como Gilberto Gil e Os Mutantes, influenciando também o tropicalismo. “A introdução da contracultura no Brasil deu-se em contexto de ditadura civil-militar. Parte de nossa juventude estudantil, engajada na resistência, acabou entrando para a luta armada, principalmente após o AI-5 (dezembro de 1968), ao passo que alguns “desbundaram”, como se dizia na época, para os que aderiam à contracultura”, explica o professor ressaltando que esse engajamento não foi um movimento da massa juvenil por questões de medo, desinformação, desinteresse ou “simplesmente por concordar com o regime militar”.

Nesse contexto, o doutor analisa que a oposição que estava presente era entre “cultura nacional e cultura imperialista, entre música engajada e música alienada”, incluindo também a presença do rock que de certo modo veiculou ideias contraculturais como o pacifismo, o amor livre, as drogas psicodélicas, as filosofias orientais que influenciaram artistas e pessoas que não eram ligadas às artes, causando mudança de comportamento aderindo ao movimento hippie.