Mesmo não sendo bem sucedida, a Revolução Pernambucana trouxe à tona questões abolicionistas e de mudança social e econômica para além da região de Pernambuco
Como podemos imaginar, a independência do Brasil não aconteceu de repente. Muitos movimentos emancipacionistas ocorreram alguns anos antes do famoso 1822, sendo a Revolução Pernambucana um deles.
A Revolução, mesmo não sendo bem sucedida, trouxe à tona questões abolicionistas e de mudança social e econômica, abrindo espaços para discussões que se projetariam além da região de Pernambuco.
“Em 1817, o radicalismo político pernambucano inseriu definitivamente o Brasil no contexto revolucionário mundial iniciado em fins do século XVIII", explica João Paulo Garrido Pimenta, docente em História do Brasil Colonial do Departamento de História da FFLCH-USP.
Veja abaixo a entrevista com o professor que nos conta mais sobre essa Revolução importante para a história do nosso país:
Serviço de Comunicação Social: Qual a importância do acontecimento para a história do Brasil?
João Paulo Garrido Pimenta: No Brasil e no Império Português o qual ele fazia parte, a Revolução Pernambucana foi o mais radical movimento político de sua época. Por quase três meses, instaurou um governo republicano em uma das mais importantes capitanias da América lusa. E embora tenha sido derrotado por forças militares organizadas no Rio de Janeiro e na Bahia, tornou públicos debates , e envolveu amplos setores da sociedade luso-americana. A Revolução se espalhou por outras regiões do Brasil, e teve impactos ideológicos até mesmo em outras partes das Américas e da Europa. Pode-se dizer que, em 1817, o radicalismo político pernambucano inseriu definitivamente o Brasil no contexto revolucionário mundial iniciado em fins do século XVIII.
Serviço de Comunicação Social: A Revolução Pernambucana ocorreu em 1817, cinco anos antes da independência do Brasil. Você considera que a revolução, embora não sucedida, contribuiu para o movimento de 1822?
João Paulo Garrido Pimenta: Por um lado, a Revolução Pernambucana é uma espécie de antítese do que seria a Independência do Brasil. Esta recusaria os princípios básicos de 1817, como seu radicalismo político e social, e se faria como uma espécie de "revolução moderada", que deveria aprender com a história recente do Brasil, do Império Português e do mundo ocidental e evitar o que setores de elite à época consideravam excessos populares e democráticos. Mas por outro lado, a Revolução Pernambucana colaborou decisivamente para o desenvolvimento de uma conjuntura de aprofundamento de múltiplas tensões e contradições entre Portugal, Brasil e as regiões deste, o que permitiria, pouco após 1817, o surgimento de um projeto definitivo de separação entre Portugal e Brasil.
